Shedim segundo a Kabbalah Natureza, Origem e Função
- kabbalahSuldoBrasil
- 4 de mai.
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Shedim segundo a Kabbalah Autêntica: Natureza, Origem e Função
A tradição cabalística autêntica, conforme os ensinamentos do Ari (Rabi Yitzhak Luria), do Zohar e de seus comentadores fiéis como Baal HaSulam, reconhece a existência dos shedim — entidades espirituais que pertencem ao lado de Sitra Achra, o "outro lado", ou seja, o lado da ocultação da Luz e oposição à santidade (kedushá). Estes seres não são simples figuras folclóricas, mas realidades espirituais cuja raiz encontra-se nos mundos espirituais de ruptura, desequilíbrio e desejo de recepção egoísta.
Origem dos Shedim
Segundo a Kabbalah lurianista, os shedim surgem como subprodutos do processo de Shevirat haKelim (quebra dos vasos) em Olam haTohu (o Mundo do Caos). Quando as Sefirot do sistema de Tohu não conseguiram manter a harmonia entre Luz e vaso (Or e Kli), as Luzes se retiraram, e os vasos se quebraram, gerando faíscas (nitzotzim) de Luz que caíram junto a fragmentos dos vasos. Esses fragmentos, impregnados de desejo de receber para si mesmo, formaram a base dos mundos impuros — Olamot haTumá — entre os quais se desenvolvem os shedim.
Os shedim pertencem, portanto, a um tipo de consciência ou estrutura espiritual que se alimenta das faíscas que ainda restam nos reinos do egoísmo. Sua existência depende da permanência do homem na ocultação, na separação da Luz do Criador.
Natureza dos Shedim: Entre Luz e Impureza
O Talmud (Chagigá 16a e Berachot 6a) descreve os shedim como tendo características tanto humanas quanto angélicas: possuem asas, podem atravessar grandes distâncias, sabem coisas ocultas, mas também comem, bebem, procriam e morrem. A Kabbalah interpreta essas descrições como indicações da dualidade essencial do shed — uma força que imita a espiritualidade, mas permanece essencialmente cortada da Fonte de Luz.
Baal HaSulam, em suas interpretações do Zohar, explica que o shed é uma forma de desejo que tenta se perpetuar como se fosse espiritual, mas está baseada na separação. Ele não deseja conexão com o Criador, mas quer usufruir da sensação de vitalidade que resta nos fragmentos espirituais caídos — as nitzotzot.
Função Espiritual: O Shed como Desafio ao Tikkun
Apesar de sua origem impura, os shedim cumprem uma função indispensável no processo do Tikkun (correção). Eles atuam como resistências e tentações que forçam a alma a exercer livre-arbítrio. Assim como o Faraó foi endurecido por Deus para que o povo de Israel clamasse com maior força, os shedim são manifestações do ocultamento que provocam o desejo autêntico de conexão, revelando, por contraste, a verdadeira Luz.
Os shedim se ligam especialmente às forças do pensamento e da imaginação corrompida — aquilo que no Sefer Yetzirah é chamado de Ruach Se’arah (espírito de tempestade), Anan Gadol (nuvem densa) e Esh Mitlakachat (fogo flamejante). Essas são manifestações da consciência desconectada da intenção de doar (Lishmá), que se alimenta do intelecto sem integração com o coração espiritual.
Combate e Transformação
O combate contra os shedim não é um exorcismo físico, mas uma elevação espiritual. O indivíduo que purifica seus desejos, alinha sua intenção (kavaná) e adere à Luz através da equivalência de forma com o Criador afasta essas entidades de sua realidade interior. Como afirma o Zohar (VaYechi 217a), “o lado da impureza só tem poder quando a santidade se oculta”.
Segundo o Ari (Etz Chaim, Sha’ar HaKlippot), os shedim não podem persistir na presença de uma alma que opera em anulação do ego, pois sua “nutrição” vem exatamente dos resíduos de desejo egoísta que o homem deixa sem correção.
Shedim Internos: Psicologia Cabalística
De forma interna e subjetiva, cada shed representa um desejo ainda não purificado, uma força psíquica que tenta manter o indivíduo afastado da retidão e da consciência divina. Esses são os “pensamentos estranhos” (machshavot zarot) que surgem justamente nos momentos de elevação espiritual, indicando que algo profundo está sendo desenterrado e precisa de correção.
Michael Laitman, em seus comentários sobre os escritos do Baal HaSulam, ensina que os shedim são projeções da quebra interior do homem, e sua aparição é um sinal de que o trabalho de Tikkun está em curso. Eles revelam onde há ainda um ponto de separação entre a criatura e o Criador.
Fontes:
Zohar – especialmente VaYechi 217a, Toldot 141b.
Etz Chaim, Sha’ar HaKlippot – Rabi Yitzhak Luria (Ari).
Talmud Bavli, Chagigá 16a, Berachot 6a.
Sefer Yetzirah – capítulos sobre os quatro elementos espirituais.
Baal HaSulam, “Introdução ao Livro do Zohar”, “Prefácio à Sabedoria da Kabbalah”.
Michael Laitman, Comentários sobre Zohar e escritos do Baal HaSulam.
E quando eles deixam de existir totalmente nos pensamentos da pessoa?
A crença nos faz ter medo dessas "coisas".
Mas o texto deixa claro que é um processo de evolução.
Obrigada Mora pelo artigo.
Estava meio suspensa com esse assunto.